quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Como eu me enxergo enquanto mulher negra

Boa noite, galerinha!! Dois dias depois do dia 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, resolvi fazer um post especial sobre esta data. Desde pequena eu sofri por conta da minha cor da pele, como todos os negros sofrem habitualmente desde seu nascimento. Eu antes não possuía uma consciência do que significava o racismo, porém sem que eu soubesse ou realmente entendesse o que isso representava, eu passei por diversas situações em que o racismo estava presente. Eu sempre tive o cabelo cacheado/crespo e na minha infância eu sofria muito para pentear o cabelo. Ele possuía muito volume e não tinha muita definição. Minha mãe desembaraçava meus fios e eu chorava de tanto que ela os puxava. Então, depois de tanto penar para pentear e ajeitar o cabelo, minha mãe colocou alisante.  Assim meu cabelo ficou todo lambido e com os cachos domados. A imagem de uma pessoa bonita e bem-sucedida era de cabelos lisos e nunca o de uma com cabelos crespos. Assim, os anos foram passando e eu nessa saga de deixar os cabelos de uma maneira aceitável para os outros. Eu não gostava do que via ao me olhar no espelho. Muitas pessoas me trataram com preconceito por conta do meu cabelo e eu seguia me depreciando para agradar aos outros. Outros episódios aconteceram ligados ao meu tom de pele e ao meu cabelo... Outro exemplo era que eu fazia curso de natação no antigo estádio da Fonte Nova, hoje Arena Itaipava, e lá haviam alguns meninos brancos atletas. A piscina ficava dividida entre os brancos que tinham dinheiro e entre os que conseguiam uma espécie de "Bolsa". E nas aulas nós tínhamos que dar a volta na piscina para aquecer e passávamos pelo lado da piscina onde esses meninos ficavam. Eles faziam chacota de mim e dos meus colegas e nos mandavam sair dali. Eu não entendia muito bem porque eles nos tratavam desse jeito. Algumas vezes fui olhada torto em alguns lugares e nas lojas em que ia, as funcionárias não queriam me atender, mesmo se eu fosse comprar algo. Eu era parada nos lugares que eu ia, até por pessoas da minha cor. Houve um dia em que eu, minha tia, minha irmã e minha mãe fomos seguidas no shopping por uma segurança, pois entramos numa loja considerada "de pessoas ricas". Algumas pessoas me olhavam e olham torto sempre que eu mostro saber de algo ou por eu me vestir bem, pois acham que pessoas como eu são ignorantes ou não merecem agir como os da cor clara. Hoje eu tenho consciência de que isso tudo é racismo e que existe sim e está presente em nosso cotidiano. Nós negros precisamos lutar pelos nossos direitos todos os dias, matando um leão por dia. Temos que mostrar  nosso valor o triplo de vezes. Ganhamos menos, somos atacados, humilhados e reduzidos, temos menos oportunidades e menos expectativa de vida. Eu sonho com o dia em que não haverá mais racismo e que todos vão ser igualmente respeitados. E enquanto esse dia não chega, seguimos lutando. Eu hoje tenho orgulho das minhas origens, da minha história, da minha cor. Assumi meus cachos e me reconheço enquanto mulher negra!! Espero que tenhamos consciência todos os 365 dias do ano e não só em um único dia... Parabéns a todos os negros e negras que sobrevivem nesse mundo louco!! E lutemos e resistimos sempre!!


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